“Já lhe disse tantas vezes...Ou a senhora pára, ou sua saúde poderá sofrer graves conseqüências...”, mais uma vez esse médico idiota vem me falar de possibilidades. Sinto tanto nojo dele, da roupa limpa e do seu sorriso amarelado que poderia dá-lhe um tiro à queima roupa, olhando em seus olhos para que ele visse em meu rosto a satisfação que esse ato me traria. Médico estúpido. Só o que gasto com uma única consulta eu poderia comprar 40 carteiras de Derby Azul. Não, na verdade eu compraria 38 carteiras de Derby Azul e 25 caixinhas de fósforo. Seriam 760 cigarros e 1250 palitos de fósforo, um verdadeiro sonho. Não daria pra ter uma segunda chance de acender cada um dos 760 cigarros, mas 25 anos fumando uma carteira por dia serviu para que eu pegasse tão bem o jeito de acendê-los que existiria até a possibilidade de sobrarem 490 palitos de fósforo. Um sonho, realmente.
Mas agora esse maldito câncer e esse médico inútil querem que eu me desfaça do maior prazer da minha vida. Prefiro morrer fumando a viver meus últimos dias fazendo exercícios físicos, assistindo ao programa da Ana Maria Braga , indo a Igreja e dançando forró com velhos horríveis. Querem me envelhecer a força e tirar de mim a satisfação de fumar meu Derby Azul na janela do meu quarto, tomando um café e pensando nas coisas boas que vivi na juventude. Nem imagino meu cotidiano sem esses momentos, seria tão tedioso. Eu morreria de tristeza, com certeza. Mesmo assim ele quer que eu largue meu Derby Azul.
Eu nunca tive filhos. Casei duas vezes, dois sociopatas. Só não fui assassinada porque sempre fui tão louca quanto meus companheiros. Era tão neurótica, sofria de continuas crises de nervos, que era mais provável que eu matasse um deles. Com a menopausa tudo mudou, fiquei tão calma e serena que parece que vivo constantemente chapada. Olha que eu não fumo maconha, nunca fumei, mas um dos meus maridos fumava por isso sei o quão tranqüila fica uma pessoa chapada. Mas de cigarro eu gosto. Não qualquer um, só do Derby Azul . Quando o fumei pela primeira vez achei ruim, gosto muito forte. Mas depois ele começou a descer para o pulmão mais gostoso que o ar. Incrível mesmo. Hoje quando acordo só fico feliz depois que olho pra cabeceira da cama e vejo minha carteira de Derby Azul e a caixinha de fósforo, me esperando para o primeiro trago do dia. Momento sublime.
“Olha, a senhora precisa fazer um tratamento. Não pode ficar brincando com a saúde. A vida na terceira idade é muito delicada, mas também pode ser muito divertida...”, ele continua falando. Não consigo prestar atenção no que ele diz, um monte de baboseiras. Além do mais se eu morrer quem vai sentir falta? Não tenho amigos, nem família. Acho que nem terei um enterro. Se morto não fedesse eu ficaria para sempre no apartamento, morta ao lado de um cinzeiro cheio de bitucas e palitinhos. Acho esse fim perfeito pra mim, sinceramente.”Promete que a senhora vai ser cuidar, promete?”, eu olho pra ele e aceno com a cabeça que sim, finjo que sou uma velha boba. Saio da sala dele, pago a consulta e o exame para a secretária,ela me dá o troco: R$ 5,00. Perfeito, duas carteiras de Derby Azul. O fósforo eu já tenho.
Mas agora esse maldito câncer e esse médico inútil querem que eu me desfaça do maior prazer da minha vida. Prefiro morrer fumando a viver meus últimos dias fazendo exercícios físicos, assistindo ao programa da Ana Maria Braga , indo a Igreja e dançando forró com velhos horríveis. Querem me envelhecer a força e tirar de mim a satisfação de fumar meu Derby Azul na janela do meu quarto, tomando um café e pensando nas coisas boas que vivi na juventude. Nem imagino meu cotidiano sem esses momentos, seria tão tedioso. Eu morreria de tristeza, com certeza. Mesmo assim ele quer que eu largue meu Derby Azul.
Eu nunca tive filhos. Casei duas vezes, dois sociopatas. Só não fui assassinada porque sempre fui tão louca quanto meus companheiros. Era tão neurótica, sofria de continuas crises de nervos, que era mais provável que eu matasse um deles. Com a menopausa tudo mudou, fiquei tão calma e serena que parece que vivo constantemente chapada. Olha que eu não fumo maconha, nunca fumei, mas um dos meus maridos fumava por isso sei o quão tranqüila fica uma pessoa chapada. Mas de cigarro eu gosto. Não qualquer um, só do Derby Azul . Quando o fumei pela primeira vez achei ruim, gosto muito forte. Mas depois ele começou a descer para o pulmão mais gostoso que o ar. Incrível mesmo. Hoje quando acordo só fico feliz depois que olho pra cabeceira da cama e vejo minha carteira de Derby Azul e a caixinha de fósforo, me esperando para o primeiro trago do dia. Momento sublime.
“Olha, a senhora precisa fazer um tratamento. Não pode ficar brincando com a saúde. A vida na terceira idade é muito delicada, mas também pode ser muito divertida...”, ele continua falando. Não consigo prestar atenção no que ele diz, um monte de baboseiras. Além do mais se eu morrer quem vai sentir falta? Não tenho amigos, nem família. Acho que nem terei um enterro. Se morto não fedesse eu ficaria para sempre no apartamento, morta ao lado de um cinzeiro cheio de bitucas e palitinhos. Acho esse fim perfeito pra mim, sinceramente.”Promete que a senhora vai ser cuidar, promete?”, eu olho pra ele e aceno com a cabeça que sim, finjo que sou uma velha boba. Saio da sala dele, pago a consulta e o exame para a secretária,ela me dá o troco: R$ 5,00. Perfeito, duas carteiras de Derby Azul. O fósforo eu já tenho.